domingo, 20 de setembro de 2009
Hora de agir pelo clima!!!
terça-feira, 26 de maio de 2009
Freedom Writers
Passei os últimos meses refletindo sobre educação, projetos educacionais, sobre as dificuldades das nossas crianças e nosso sistema público que finge que ensina enquanto tenta apenas conter os alunos...
Foi exatamente nessa circunstância que “Escritores da Liberdade” surgiu na minha vida, como acaso, numa TV ligada despretensiosa e milagrosamente. Renovou-me a coragem e ideais, inspirou-me novas ideias e permitiu-me entender que meus métodos, embora incomuns, não são tão errados assim.
Sinto como se fosse meu próprio filme... Eu cheguei à escola exatamente como Erin, tinha apenas o meu amor e um pacote de sonhos. O primeiro susto é sempre o mau humor dos colegas e a incredibilidade da direção, seguidos do encontro arrasador com as turmas...
Crianças de 12 anos matando colegas (aconteceu aqui em Campo Grande mês passado)!
Corta-me o coração quando percebo alunos de apenas 11 anos envolvidos com drogas e a escola não permite uma intervenção direta, enquanto metade de uma turma está com os pais presos, e a outra metade convive com violência doméstica.
De que adianta jogar conteúdo no quadro se entram novamente no campo de batalha quando cruzam os muros da escola? Como tocar seus corações? Eles estão acostumados a ouvir que não prestam, que não fazem nada direito, que não serão ninguém na vida. Simplesmente acreditam e não se importam mais, pior que isso, assumem esse papel fracassado...
Isso tudo é responsabilidade de quem? A vida não tem valor para eles, brigam e matam sem razão alguma... Como ensinar jovens assim? O que eles precisam mesmo aprender?
Eles nos testam, nos provocam até o fim, só pra comprovar que os professores são todos iguais, não sabem nada sobre eles... Riem-se satisfeitos exibindo-se diante da turma cada vez que nos conseguem desequilibrar, quando nos esforçamos tanto para manter a aula agradável... Dizem alegres e orgulhosos que nossa máscara caiu, porque perdemos o sorriso...
Estranham mesmo quando aparece alguém que se importa, acredita e tem carinho por eles mesmo assim... O grande momento é quando conseguimos semear uma interrogação no coração do aluno:
- “Perai! Ela gosta de mim mesmo sendo chato assim? O que eu tenho de especial?”
Essa questão é capaz de salvá-los, é a questão que os fará resgatar a auto estima perdida em tantas lágrimas e fracassos próprios ou alheios.
Conforme passam os dias e conheço melhor a cada um deles eu tento uma nova forma de abordá-los... Há dias em que consigo tocá-los, dias que eles aceitam e se entregam às reflexões propostas, há dias em que nada funciona, fase da lua, clima, temperatura, TPM coletiva... Não sei a razão deste triste fato, sei apenas que quando resolvem participar o momento vale por todos os outros perdidos.
Enfim, diante de tudo isso, ainda não posso dizer que o aluno é culpado, ele é a maior vitima de tanta hipocrisia. É cômodo rotulá-los e repugná-los enquanto são apenas produtos de todo um sistema social egoísta e equivocado.
Quando uns criticam a ausência de método, esquecem que estamos lidando com seres humanos. Precisamos ajudá-los a lidar com os seres humanos que são, com os sofrimentos que passam, com as fraquezas que possuem, com as batalhas que enfrentam. Quando aprenderem a lidar com isso estarão prontos para as mais complexas lições de matemática, história, geografia...
O método consiste em amar e compreender apenas. Ouvir, orientar, acreditar...
Frequentemente saímos da escola nos sentindo impotentes, esgotados... Sem fazer a menor idéia de como ajudá-los...
Talvez o amor baste... O resto se encaminha...
Como Erin Gruwell diz: Como podem ensiná-los se nem ao menos gostam deles?
Se não pudermos ensiná-los, sejam quais forem as razões, ao menos gostemos deles, e isso já será muito.
Freedom Writers é, sem dúvida, um filme obrigatório para todo educador!
Hoje, como no primeiro dia que adentrei a escola, tenho somente o meu amor e meu pacote de sonhos, agora sei que não sou única, tampouco me considero errada, e desejo mesmo permanecer assim...
Erin Gruwell criou a Freedom Writers Foundation, uma fundação voltada a recriar o sucesso obtido com sua turma e orientar educadores de todo o mundo, reduzindo a evasão escolar e incentivando jovens que vivem em situação de risco a cursarem Universidades, encontrando inclusive parceiros que custeiem seus estudos. Para conhecer melhor o trabalho ou fazer a sua doação acesse o site http://www.freedomwritersfoundation.org/
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Presente de Anjo ou de Grego???
Infelizmente, esse ano resolveram agir assim na empresa em que eu trabalho (acreditando que seriam mais produtivos dessa forma), decidiram por consequência estar sozinhos, obter o mínimo dos funcionários, não fazer esforço para serem agradáveis e preocupados com o bem estar da equipe, colocar a responsabilidade do sucesso da empresa nas mãos dos funcionários sem dar-lhes boas condições de trabalho e punindo-os pelo menor deslize (em seu ponto de vista).
Leva-nos a perceber que a autoridade não é algo que se impõe, é algo que se conquista... e dá exemplos de como isso funciona dentro de uma empresa. Diferenciando bem autoridade de autoritariedade.
Hunter descreve a liderança como a habilidade de influenciar as pessoas para que trabalhem de forma livre, modo pelo qual visa atingir os interesses, sugerindo ainda uma pirâmide inversa de poder na qual os clientes são os verdadeiros chefes de uma empresa, portanto os funcionários que os atendem devem ter plenas condições para trabalharem bem, atribuindo assim ao chefe a função de servir aos seus funcionários (nos aspectos físico, material e emocional, esboçando aspectos que devem estar satisfatórios na vida dos mesmos para que o esforço seja válido).
O autor lembra que ser líder não é ter poder, fazer com que outros lhe obedeçam sem questionar, mas possuir a autoridade de pedir e ser atendido, sem utilizar de chantagem, fazendo ainda um paralelo entre amor e liderança. Para ele, líder é aquele que compreende, deseja o bem estar de seu funcionário, ama-o, sabe ouvir, e acima de tudo serve-o.
Ainda não tive oportunidade de estar do outro lado, compreendo que não seja fácil, entretanto não me parece interessante trilhar o caminho mais difícil. Agir com terror, ameaças e punições é uma forma antiga e sabida fracassada de administração.
Não estou aqui fazendo propaganda de livro algum, até aceito sugestões dos leitores caso conheçam outras boas obras do gênero. Sei que existem obras excelentes que podem ajudar (muito) a empresa a ter sucesso, estou apenas sugerindo às pessoas que têm essa difícil oportunidade e responsabilidade de liderar que se preparem para isso, basta um pouco de disposição e humildade para enxergar novos horizontes e ouvir mais.
Ajudem as pessoas a trabalharem em seu favor, com ânimo e desempenho máximo. Certamente dessa forma sua empresa vai prosperar, com ou sem crise mundial. A maior segurança que o empregador pode ter de sucesso é uma equipe de qualidade, sólida, comprometida e satisfeita.
Para mim continuam valendo profissionalismo, ética, honestidade, generosidade, simpatia, união... valores que devem pautar nossa prática e nossas relações para que possamos trabalhar bem juntos...
Estão vendo só como é cabeça dura??? (SIM)
É bem mais fácil reclamar do presente do que se propor a fazer essa auto-avaliação...
(Cansei de chorar por tamanha ignorância...)
domingo, 7 de dezembro de 2008
"(Anti)Pedagogia"
Estaria ainda mais desanimada não fosse a certeza de que nem todos os educadores são superficiais...
Seria perfeito não fosse o fato de a nossa educação ter-se tornado apenas estatística.
Fiquei super decepcionada porque percebi que esse pensamento medíocre anda presente até mesmo no projeto... o que me fez refletir sobre todo o cenário e os valores que têm regido o processo educacional instalado em nosso país...
Uma das coisas que me indignam é a tal política de aceleração adotada atualmente, na qual o aluno é passado de ano mesmo sem ter assimilado conteúdo algum, com a pretensão de ter índices mais bonitos para divulgarem em época de campanha. Isso só contribui para uma política fraudulenta e um número cada vez maior de pessoas chegando às universidades semi-analfabetas (sim, semi-analfabetas).
O motivo da revolta foi a absoluta falta de maturidade, habilidade e valores que observei em alguns colegas “educadores” através desse projeto.
Lembrei-me também das reflexões feitas ainda na faculdade, sobre a criança ideal e a criança real. Alguns colegas não conseguem compreender que correr, gritar, pular, bagunçar é algo que faz parte do universo infantil. O professor deve atuar como um tutor, e o melhor é aquele que consegue manter as crianças imóveis e em silêncio absoluto. Esse é um conceito tão antigo, mas as pessoas ainda insistem em adotá-lo.
Confesso que tenho sim certa dificuldade em exercer autoridade sobre as crianças (em vista do perfil das comunidades que somos desafiados a educar), entretanto não pretendo fazer com que se portem como robozinhos. Não vou me desgastar brigando com a molecada porque estão se molhando no bebedouro, porque o fariam de qualquer forma, e proibí-los seria apenas mais um incentivo. Percebo que alguns colegas esqueceram-se da própria infância e não se esforçam para compreender as dificuldades que esses pequenos enfrentam com tanto humor...
Tenho com eles uma relação estreita de carinho e compreensão, não de autoritariedade e terror, como a nossa coordenadora (anti) pedagógica... Até porque acredito que autoridade é algo que definitivamente não se conquista com autoritariedade.
Hoje vejo o quanto o Bom Humor é essencial... Tanto para nós mesmos quanto para os que convivem conosco. (Como é difícil trabalhar com alguém mau humorado!!!!!)
Todo mês é realizado um encontro -ou melhor, uma competição- entre as escolas de determinada região. Eles não se importam se o número de alunos frequentes nas oficinas é regular ou se vários feriados atrapalharam o andamento das atividades, eles medem a sua competência pela imagem da escola que promoverá no dia da apresentação. Não importa se a primeira foi incrível, se a segunda for mais ou menos o professor é mesmo incompetente... E se os alunos ousarem errar a coreografia então... Minha nossa!!!! Ah... e tem que ter coisa nova todo mês, não importa se o grupo é diferente a cada semana... importante é levar o nome da escola aos eventos e fingir que isso é educar. Seria bem fácil ter uma turma cheia de alunos se estivesse disposta a colocar um funk nervoso pra eles dançarem, mas isso seria contra todos os meus princípios.
Acorda!!!!! Não existe aula de Educação Física em silêncio!
Educação não pode ser competição ou exibicionismo!!!!!
Muito menos estatística!!!!!
Não faça de um momento com potencial de reforma íntima uma corrida para exibir seu nome!!!!
Ah....
Se puder ajudar um pouco essas crianças a serem pessoas melhores já me dou por satisfeita, mesmo que não dancem nada no dia da apresentação, sempre fico toda orgulhosa e feliz (tenho o maior carinho por eles).
E não admito que “educadores” com valores tão medíocres meçam minha competência e comprometimento através de sua miopia, suas medidas torpes, competições infantis ou estatísticas infiéis...
Ainda há muito, muito a ser feito... Talvez um caminho seja (como diz meu grande amigo Alexandre), se pessoas que sentem esse comprometimento com a tarefa de educar (que conseguem ver o problema no sistema e acreditam que dá para melhorar) trabalhem por cima, tentando mudar a visão de educação dos administradores e educadores viciados (formação continuada), envolvendo-se em políticas e projetos de gestão. Pois as duas pontas são igualmente importantes (escola e política)...
O educador hoje em dia é tão desvalorizado que não tem como batalhar pelas duas reformas... Parece menos dolorido batalhar comandando o exército cansado.
A prefeitura daqui tem tentado investir em idéias assim, mas como sempre, esbarramos no tal Ser Humano...
E voltamos ao início... ao cotidiano de alguém cansado, frustrado, irritado, endividado, solitário... fazendo de um tudo para desvalorizar quem não vê o mundo cinza como ele.
Sorrir é pecado e se relacionar amigavelmente com aqueles pestinhas é ridículo!
Quero continuar uma ridícula pecadora...
Peço perdão se minha indignação os ofende... realmente estou muito chateada, mas não pessimista!!!
Mas sejam bem vindos!! Esse é o cotidiano de um Educador...
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
DANCE!!!!!
-"...Quero dançar com você, dançar com você..." - Diria Vanessa da Mata...
Esse Matt sabe mesmo ser feliz...
Dá vontade de largar tudo e dançar com ele...
Sentir cada vento, cada amanhecer, cada amizade cativada, cada cenário, cada gosto, cada batida do coração...
Só posso mais uma vez ser grata a vida e a Deus por ter criado cada cenário desses... :)
Boa sugestão para ser feliz.... Dance!!! Em qualquer lugar ou circunstância... :)
Dancemos!!!
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Sobre as Mangueiras e Mangas...
Mangueiras e Mangas...
Obrigada mais uma vez... :)
Esse desânimo todo com a Educação é compreensível Dri, diante do cotidiano massacrante e ingrato de um Educador no nosso país...
Concordo absolutamente com você Dri, e como já comentei certa vez em uma conversa despretensiosa, como podem permitir que pessoas cujos valores não condizem com os ideais da educação sejam educadoras? Pior ainda, formadores de educadores? (Não quero fazer julgamento algum, embora o pareça, estou apenas falando do que anima a pessoa a exercer a tarefa de educar, do que essa pessoa tem de valor para passar adiante).
Essa resposta é fácil... Não há como mensurar os valores que cada um carrega dentro de si, valores esses que nos fazem enxergar as situações com mais ânimo ou desânimo, otimismo ou pessimismo, entusiasmo ou apatia.
Admiro e me inspiro muito nas pessoas que têm fé, amor e comprometimento na dura tarefa de Educar... Tenho grandes exemplos de mestres que me serão queridos eternamente, e exemplos também de como um professor pode não somente deixar de contribuir, mas atrapalhar (e muito) a vida de um aluno.
Nosso desafio não se limita somente à Educação Básica e projetos sociais... Envolve também o processo de formação de nossos colegas, exatamente como você disse -"Nossas atitudes serão a base de inspiração para futuros educadores, seja para o bem ou para o mal". E sabemos ainda que há uma forte tendência de se repetir a vivência que a própria pessoa teve em seu processo educacional e de formação.
Muito feliz a idéia de comparar a Educação à uma bela e frondosa árvore frutífera... A analogia é perfeita e a figura é linda!!! Também posso ver a Educação como uma bela árvore, com todas as maravilhas e dons inerentes a ela brotando, doando força e vida para todos...
Não devemos esquecer as mangas caídas... pois elas também têm sementes e só apodrecerão se forem abandonadas... Podem espalhar valores ensinados ou deixados de ensinar, positivos ou não.
Uno-me portanto ao seu impulso de otimismo e pedido aos nossos colegas que tentem enxergar a situação com um pouco mais de paciência e acreditar que podem sim propor algumas melhorias na vida desses pequenos (ou grandes), ou até de toda uma comunidade...
"Se a Educação não chegou onde gostaríamos, é porque devemos fazer mais, propor mais, mobilizar mais, brigar mais, tentar mais". Estendo esse esforço a todas as problemáticas que se apresentam na vida, tudo o que gostaríamos e ainda não é, o que nos incomoda, machuca ou desmotiva. Devemos sim lutar contra esses sentimentos colocando acima deles a vontade de transformar a situação, e enquanto educadores, buscarmos antes de tudo os valores que nos darão ânimo e norte para desempenharmos nossa sagrada tarefa com mais amor e menos lamentação, nos orientando melhor na administração de nossos próprios troncos e de nossas semeaduras futuras.
VIU?! :)
Meu amor...
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Afinidade
MUITO OBRIGADA por ter entrado na minha vida...
(Arthur da Távola)
(Segue o texto, caso o vídeo não abra pra você)
A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida. É uma vitória do adivinhado sobre o real. Do subjetivo sobre o objetivo. Do permanente sobre o passageiro. Do básico sobre o superficial. Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar. Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas. O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam. É ficar conversando sem trocar palavra. É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com. Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo. Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado? Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios? Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo. É olhar e perceber. É mais calar do que falar. Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.
Afinidade é jamais sentir por. Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo. Mas quem sente com, avalia sem se contaminar. Compreende sem ocupar o lugar do outro. Aceita para poder questionar. Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
Só entra em relação rica e saudável com o outro, quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar, não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é. E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade. Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita o outro como ele é.
Por isso, aliás, questiona. Questionamento de afins, eis a (in)fluência. Questionamento de não afins, eis a guerra.
A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele. Independente dele. A quilômetros de distância. Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar, por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos. Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos, veremos ou falaremos.
Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem para buscar sintomas com pessoas distantes,com amigos a quem não vemos, com amores latentes, com irmãos do não vivido?
A afinidade é singular, discreta e independente, porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas nem pelas pessoas que as tem.
Por prescindir do tempo e ser a ele superior, a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente. Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós, para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade. É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau, porque o que define a afinidade é a sua existência também depois. Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal. Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta, ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade. A pessoa mudou, transformou-se por outros meios. A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas, plantios de resultado diverso.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças, é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quanto das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado.