terça-feira, 26 de maio de 2009

Freedom Writers



Há meses sinto vontade de escrever sobre este belo filme, entretanto, o estresse dessa vida de professora e outros poréns não tem colaborado muito com a inspiração desta que vos escreve.
Passei os últimos meses refletindo sobre educação, projetos educacionais, sobre as dificuldades das nossas crianças e nosso sistema público que finge que ensina enquanto tenta apenas conter os alunos...
Eu estava muito nervosa, prestes a assumir o concurso e não fazia idéia de como seria lidar com tanta coisa nova ao mesmo tempo (e ainda não faço), como ajudar enquanto todo o sistema só atrapalha? Entre essas e outras discussões, Adriano falava-me sobre seu projeto nos EUA, as características de seus alunos e uma leitura que havia feito ainda adolescente, um livro de uma garotinha de apenas 13 anos (O Diário de Anne Frank).
Foi exatamente nessa circunstância que “Escritores da Liberdade” surgiu na minha vida, como acaso, numa TV ligada despretensiosa e milagrosamente. Renovou-me a coragem e ideais, inspirou-me novas ideias e permitiu-me entender que meus métodos, embora incomuns, não são tão errados assim.
Sinto como se fosse meu próprio filme... Eu cheguei à escola exatamente como Erin, tinha apenas o meu amor e um pacote de sonhos. O primeiro susto é sempre o mau humor dos colegas e a incredibilidade da direção, seguidos do encontro arrasador com as turmas...
Crianças de 12 anos matando colegas (aconteceu aqui em Campo Grande mês passado)!
Corta-me o coração quando percebo alunos de apenas 11 anos envolvidos com drogas e a escola não permite uma intervenção direta, enquanto metade de uma turma está com os pais presos, e a outra metade convive com violência doméstica.
De que adianta jogar conteúdo no quadro se entram novamente no campo de batalha quando cruzam os muros da escola? Como tocar seus corações? Eles estão acostumados a ouvir que não prestam, que não fazem nada direito, que não serão ninguém na vida. Simplesmente acreditam e não se importam mais, pior que isso, assumem esse papel fracassado...
Isso tudo é responsabilidade de quem? A vida não tem valor para eles, brigam e matam sem razão alguma... Como ensinar jovens assim? O que eles precisam mesmo aprender?
Eles nos testam, nos provocam até o fim, só pra comprovar que os professores são todos iguais, não sabem nada sobre eles... Riem-se satisfeitos exibindo-se diante da turma cada vez que nos conseguem desequilibrar, quando nos esforçamos tanto para manter a aula agradável... Dizem alegres e orgulhosos que nossa máscara caiu, porque perdemos o sorriso...
Estranham mesmo quando aparece alguém que se importa, acredita e tem carinho por eles mesmo assim... O grande momento é quando conseguimos semear uma interrogação no coração do aluno:
- “Perai! Ela gosta de mim mesmo sendo chato assim? O que eu tenho de especial?”
Essa questão é capaz de salvá-los, é a questão que os fará resgatar a auto estima perdida em tantas lágrimas e fracassos próprios ou alheios.
Conforme passam os dias e conheço melhor a cada um deles eu tento uma nova forma de abordá-los... Há dias em que consigo tocá-los, dias que eles aceitam e se entregam às reflexões propostas, há dias em que nada funciona, fase da lua, clima, temperatura, TPM coletiva... Não sei a razão deste triste fato, sei apenas que quando resolvem participar o momento vale por todos os outros perdidos.
Enfim, diante de tudo isso, ainda não posso dizer que o aluno é culpado, ele é a maior vitima de tanta hipocrisia. É cômodo rotulá-los e repugná-los enquanto são apenas produtos de todo um sistema social egoísta e equivocado.
Quando uns criticam a ausência de método, esquecem que estamos lidando com seres humanos. Precisamos ajudá-los a lidar com os seres humanos que são, com os sofrimentos que passam, com as fraquezas que possuem, com as batalhas que enfrentam. Quando aprenderem a lidar com isso estarão prontos para as mais complexas lições de matemática, história, geografia...
Enquanto não houver psicólogos nas escolas para desempenharem essa tarefa, ela é responsabilidade dos professores sim.
O método consiste em amar e compreender apenas. Ouvir, orientar, acreditar...
Frequentemente saímos da escola nos sentindo impotentes, esgotados... Sem fazer a menor idéia de como ajudá-los...
Talvez o amor baste... O resto se encaminha...
Como Erin Gruwell diz: Como podem ensiná-los se nem ao menos gostam deles?
Se não pudermos ensiná-los, sejam quais forem as razões, ao menos gostemos deles, e isso já será muito.

Freedom Writers é, sem dúvida, um filme obrigatório para todo educador!
Quero mesmo que meus alunos me deixem conversar com seus corações e deem-me espaço para que eu possa ajudá-los no que eu puder, e ainda assim farei uma força para ajudar no que eu não puder. :)
Hoje, como no primeiro dia que adentrei a escola, tenho somente o meu amor e meu pacote de sonhos, agora sei que não sou única, tampouco me considero errada, e desejo mesmo permanecer assim...
Assista a trechos do filme em:


Erin Gruwell criou a Freedom Writers Foundation, uma fundação voltada a recriar o sucesso obtido com sua turma e orientar educadores de todo o mundo, reduzindo a evasão escolar e incentivando jovens que vivem em situação de risco a cursarem Universidades, encontrando inclusive parceiros que custeiem seus estudos. Para conhecer melhor o trabalho ou fazer a sua doação acesse o site http://www.freedomwritersfoundation.org/