domingo, 7 de dezembro de 2008

"(Anti)Pedagogia"


Só mesmo com muita resiliência, como o Adriano diz...
Hoje tive de por em prova todas essas nossas reflexões a respeito da tal Mangueira...
Estaria ainda mais desanimada não fosse a certeza de que nem todos os educadores são superficiais...

Trabalho em um belo projeto batizado de Escola Viva/Escola Aberta, uma parceria do MEC com algumas prefeituras que abre as portas das escolas para toda a comunidade aos finais de semana, oferecendo oficinas, jogos, cursos profissionalizantes etc... Um bom projeto, com uma boa proposta e professores bem comprometidos coordenando-o.
Seria perfeito não fosse o fato de a nossa educação ter-se tornado apenas estatística.
Fiquei super decepcionada porque percebi que esse pensamento medíocre anda presente até mesmo no projeto... o que me fez refletir sobre todo o cenário e os valores que têm regido o processo educacional instalado em nosso país...
Uma das coisas que me indignam é a tal política de aceleração adotada atualmente, na qual o aluno é passado de ano mesmo sem ter assimilado conteúdo algum, com a pretensão de ter índices mais bonitos para divulgarem em época de campanha. Isso só contribui para uma política fraudulenta e um número cada vez maior de pessoas chegando às universidades semi-analfabetas (sim, semi-analfabetas).
O motivo da revolta foi a absoluta falta de maturidade, habilidade e valores que observei em alguns colegas “educadores” através desse projeto.
Lembrei-me também das reflexões feitas ainda na faculdade, sobre a criança ideal e a criança real. Alguns colegas não conseguem compreender que correr, gritar, pular, bagunçar é algo que faz parte do universo infantil. O professor deve atuar como um tutor, e o melhor é aquele que consegue manter as crianças imóveis e em silêncio absoluto. Esse é um conceito tão antigo, mas as pessoas ainda insistem em adotá-lo.
Confesso que tenho sim certa dificuldade em exercer autoridade sobre as crianças (em vista do perfil das comunidades que somos desafiados a educar), entretanto não pretendo fazer com que se portem como robozinhos. Não vou me desgastar brigando com a molecada porque estão se molhando no bebedouro, porque o fariam de qualquer forma, e proibí-los seria apenas mais um incentivo. Percebo que alguns colegas esqueceram-se da própria infância e não se esforçam para compreender as dificuldades que esses pequenos enfrentam com tanto humor...
Tenho com eles uma relação estreita de carinho e compreensão, não de autoritariedade e terror, como a nossa coordenadora (anti) pedagógica... Até porque acredito que autoridade é algo que definitivamente não se conquista com autoritariedade.
Hoje vejo o quanto o Bom Humor é essencial... Tanto para nós mesmos quanto para os que convivem conosco. (Como é difícil trabalhar com alguém mau humorado!!!!!)
Todo mês é realizado um encontro -ou melhor, uma competição- entre as escolas de determinada região. Eles não se importam se o número de alunos frequentes nas oficinas é regular ou se vários feriados atrapalharam o andamento das atividades, eles medem a sua competência pela imagem da escola que promoverá no dia da apresentação. Não importa se a primeira foi incrível, se a segunda for mais ou menos o professor é mesmo incompetente... E se os alunos ousarem errar a coreografia então... Minha nossa!!!! Ah... e tem que ter coisa nova todo mês, não importa se o grupo é diferente a cada semana... importante é levar o nome da escola aos eventos e fingir que isso é educar. Seria bem fácil ter uma turma cheia de alunos se estivesse disposta a colocar um funk nervoso pra eles dançarem, mas isso seria contra todos os meus princípios.
Acorda!!!!! Não existe aula de Educação Física em silêncio!
Não existe um grupo de crianças em silêncio!
O que para você é uma grande bagunça pode ser um momento rico de interação e aprendizagem para eles.
Educação não pode ser competição ou exibicionismo!!!!!
Muito menos estatística!!!!!
Não faça de um momento com potencial de reforma íntima uma corrida para exibir seu nome!!!!
Ah....
Se puder ajudar um pouco essas crianças a serem pessoas melhores já me dou por satisfeita, mesmo que não dancem nada no dia da apresentação, sempre fico toda orgulhosa e feliz (tenho o maior carinho por eles).
E não admito que “educadores” com valores tão medíocres meçam minha competência e comprometimento através de sua miopia, suas medidas torpes, competições infantis ou estatísticas infiéis...
Ainda há muito, muito a ser feito... Talvez um caminho seja (como diz meu grande amigo Alexandre), se pessoas que sentem esse comprometimento com a tarefa de educar (que conseguem ver o problema no sistema e acreditam que dá para melhorar) trabalhem por cima, tentando mudar a visão de educação dos administradores e educadores viciados (formação continuada), envolvendo-se em políticas e projetos de gestão. Pois as duas pontas são igualmente importantes (escola e política)...
O educador hoje em dia é tão desvalorizado que não tem como batalhar pelas duas reformas... Parece menos dolorido batalhar comandando o exército cansado.
A prefeitura daqui tem tentado investir em idéias assim, mas como sempre, esbarramos no tal Ser Humano...
E voltamos ao início... ao cotidiano de alguém cansado, frustrado, irritado, endividado, solitário... fazendo de um tudo para desvalorizar quem não vê o mundo cinza como ele.
Sorrir é pecado e se relacionar amigavelmente com aqueles pestinhas é ridículo!
Quero continuar uma ridícula pecadora...
Alguns colegas andaram alimentando-se de frutos podres... espero que um dia possam recuperar sua saúde...
Peço perdão se minha indignação os ofende... realmente estou muito chateada, mas não pessimista!!!
Nossa... não combina um texto tão decepcionado assim seguindo um texto tão idealizado como o anterior....
Mas sejam bem vindos!! Esse é o cotidiano de um Educador...

3 comentários:

Luiz Roberto Lins Almeida disse...

boa reflexão. aliás, o tema da educação, pelo menos entre nós, ainda precisa ser muito debatido.

Adriano Pires de Campos disse...

É engraçado mesmo o que acontece com a educação. Criam-se boas idéias, mas que logo são transformadas em armadilhas. Estatística, por exemplo, é fundamental para avaliar os rumos da educação, juntamente com dados qualitativos. Porém, muitas vezes sobram números ao invés de crianças no momento de avaliar o resultado de um projeto. Da mesma forma, a progressão continuada surgiu como uma boa proposta de não interromper o caminho do aluno durante um ciclo de aprendizagem. Teria dado muito certo se houvesse estrutura adequada e professores bem preparados e bem pagos para executar essa tarefa. A distância é pequena entre a boa idéia e a armadilha. Cabe aos educadores guiar seus pupilos por esse caminho, não cair na arapuca com todos eles.

Márcia de Oliveira disse...

O que mais me entristece é saber que o slongan "Arroz, feijão, saúde e educação", não está presente no bolsa familia. E enquanto isso não acontecer vamos continuar só no arroz e feijão, procriando mais gente em pról da bolsa e tudo sem saúde e sem educação. Eu, dear sobrinha, desisti sabe. Acompanhei tanta gente gritar este slongan e outras palavras de ordem nas passeatas da minha vida que eu de fato acreditava. Acreditei até ver estas pessoas chegarem ao poder e esquecerem pelo que gritaram. Por isso defendo que a educação vá além da formação intelectual. É algo que deve promover a ética sobretudo e não apenas o sucesso profissional cristalizado no dinheiro. Do contrário será assim sempre num eterno enxugar gelo com a lei do egoísmo, da vantagem e mau caratismo vencendo sempre.
Gostei do blog e vou voltar sempre.
bjsjsjs
Gostei do blog e suas indagações.
tia márcia
bjssss